Arquivo do dia: 2 de dezembro de 2015

O que é, afinal, a reorganização escolar?

O que é, afinal, a reorganização escolar?

Trata-se de uma reforma do governo estadual de São Paulo, que pretende separar as escolas por ciclos e readequar o número de alunos por escola. É apresentada, pelos gestores educacionais, como uma simples “medida técnica” em benefício da educação pública paulista. Os mesmos acusam aqueles que lutam contra ela de ter pretensões “políticas”. A palavra “Política” tornou-se, para eles, um palavrão a ser pronunciado com nariz torto e cara torcida. Talvez os gestores tenham sido amamentados com glicerina pelas suas mães, afinal, eles se dizem “neutros” e “isentos”de interesses.

Na realidade, tal reforma implica em fechar aquelas escolas que estão abaixo de uma suposta capacidade definida politicamente (excesso de “capacidade ociosa”); e transferir alunos para outras escolas – superlotando-as. Nada mais significa do que isso – um ataque terrorista sobre o direito ao ensino da população. Na realidade, trata-se de uma redução das despesas com educação – que ocorre ao mesmo tempo em que o governo investe na construção de escolas particulares e perdoa grandes empresários que lhe devem milhões. Isso significa reduzir a parcela de riqueza social – em termos de valor – que a classe trabalhadora recebe na forma de um salário indireto. Educação, saúde, serviços públicos, são salário indireto incorporado à força de trabalho da população trabalhadora. De fato, são também infra-estruturas para tornar os trabalhadores mais produtivos em termos capitalistas – e no caso das escolas, os futuros trabalhadores.

Quando se reduz os gastos com educação, se trata de produzir mão de obra com menos custos, portanto, baratear esta preciosa mercadoria, a única que gera valor econômico. Tal reforma terá, diretamente, o efeito de precarizar a educação, reduzir sua qualidade, aumentando a violência escolar, sobrecarregando o trabalho docente, deteriorando ainda mais as estruturas escolares. E também terá o efeito indireto, depois, de transformar estes alunos em uma força de trabalho ainda mais barata.

É exatamente a percepção disto, mesmo que intuitiva e não teórica, que levou os alunos e comunidades às ocupações de escolas. Trata-se de luta de classes, puramente. A crise capitalista – causada pela terceira revolução industrial, que substitui cada vez mais o trabalho humano pelo trabalho morto das máquinas, e a base de valorização geral da economia diminui – força a uma economia da miséria, ou uma economia na base da porcaria. Mundialmente os direitos trabalhistas são atacados, e os gastos sociais são cortados, gerando protestos. A educação entra neste abate generalizado. É essa a realidade na França, Argentina, México, Chile, e Brasil. Cada dia mais pessoas são declaradas como não-rentáveis, excluídas da socialização capitalista em crise, e legadas ao poder disciplinador do cassetete.

Como podemos perceber, tal reorganização escolar é um completo ataque político do Estado e dos gestores capitalistas à classe trabalhadora, apesar de seus promotores jurarem que agem apenas de forma “técnica” e “não-política”. A quem eles enganam? O que é mais político do que isso? Corta-se a migalha civilizatória capitalista, ao mesmo tempo em que cinco rapazes são fuzilados sem defesa no Rio de Janeiro. Já vivemos em um estado fascista. Porém, isso pode detonar um efeito colateral inesperado: um amplo processo de resistência social, o retorno do espectro da luta de classes. O fantasma do conflito de classes surge para perturbar a noite de Natal do Sr. Scrooge.